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Bianca Pagliarin conta testemunho de libertação: “Fui resgatada na Cracolândia”

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Bianca Pagliarin – Foto: Arquivo Pessoal

A Life coach Bianca Pagliarin, filha do pastor Juanribe Pagliarin, fundador da Comunidade Cristã Paz e Vida, contou seu testemunho de libertação das drogas em um artigo publicado na revista Marie Claire, neste mês. Confira abaixo os principais trechos deste relato inspirador e emocionante.

PROBLEMAS DE AUTOESTIMA E AUTORREJEIÇÃO

“Eu tinha problemas com a comida e autoestima muito baixa. Me lembro de ver uma foto minha com quase oito anos usando roupas da minha mãe, bem acima do meu tamanho. Eu me vestia como uma adulta, não cabia em roupas de criança por ser gordinha. Essa é minha primeira lembrança de autorrejeição”.

“Eu estava sempre insatisfeita e buscando uma dose mais forte de ‘anestésicos’ para ‘curar’ a minha alma’. Nunca falei disso para ninguém, nem mesmo para minha mãe, que sempre foi muito amiga. Eu parecia só ser uma criança acima do peso e nada mais”.

“Passei por muitos momentos tristes, de chacotas e piadinhas por ser uma menina fora dos padrões. Era mais alta do que a maioria, muito quieta e calada, sem falar que uma outra menina e eu éramos as únicas evangélicas da nossa sala de aula e eu ainda era a única filha de pastor da turma”.

CARREIRA NA MODA

“No final dos anos 80 passava a novela Top Model, que mostrava a vida das mocinhas que queriam ser modelos. Eu achava era o máximo. Uma cena me marcou: quando a personagem da atriz Suzy Rêgo foi criticada pelos bookers porque estava ‘acima do peso’ e precisaria emagrecer. Ela pegou tudo quanto era guloseima do armário da cozinha e jogou no lixo. Eu até cheguei a fazer o mesmo, algumas vezes, mas na minha cabeça eu nunca seria como elas”.

“Por volta dos 12 anos comecei a trabalhar com meu pai na sua agência de propaganda, na Avenida Paulista, em São Paulo. No primeiro mês eu me sentia tão cansada que chegava em casa e só queria dormir, sem jantar. Minhas calças ficaram muito largas e precisei comprar roupas novas – mas não porque engordei, pela primeira vez foi porque tinha emagrecido. Da calça jeans tamanho 44 apertada, pulei para o 40 largo”.

“Com o incentivo da minha mãe, que havia se matriculado em uma academia no nosso bairro, comecei também a fazer ginástica. Passei a ter vontade de me cuidar. Nessa mesma academia um caça talentos me viu e convidou para o casting de uma grande agência de modelos. Achei que ele estava brincando. ‘Eu nem tenho corpo de modelo’, falei. ‘E daí? Emagrece mais, ué’, ele me respondeu”.

“Desde o início, minha mãe sempre me apoiou e achou muito legal ter uma filha modelo. Ela foi comigo a quatro agências e em todas o diagnóstico foi o mesmo: eu precisava emagrecer 20 quilos. Muito determinada e com a perspectiva de ser aceita, emagreci 30 quilos. Estava como as modelos: altas e esquálidas”.

Como modelo, Bianca Pagliarin atuou em desfiles e comerciais nos anos 90 – Foto: Arquivo Pessoal

VÍCIO DAS DROGAS

“A partir de então, passei a atuar em desfiles e comerciais de TV, sempre com minha mãe do lado. Dona Arlete é o ser humano mais generoso, amável, íntegro que já conheci na vida. Nossa conexão vai muito além e sempre foi muito forte. Mas em determinado momento achei que precisava me enturmar mais para conseguir mais trabalhos. Pedi para ela não me acompanhar mais, eu precisava ter amigos, como qualquer outra adolescente”.

“Nessa fase, para me enturmar, procurei agir como as outras modelos agiam. E o que muitas faziam? Fumavam muito. Diziam que ajudava a controlar o apetite. Comecei a fumar também. Aos 15, fui me afastando dos meus pais e ficando cada vez mais desconectada da minha família. Logo vieram baladas regadas a muita bebida. Agora eu tinha uma turma, que me chamava para sair e que parecia curtir minha companhia. Assim como eles, passei a fumar maconha. Alguns amigos usavam cocaína, mas preferi não experimentar”

“Eu amava minha nova turma, sentia que poderia viver intensamente daquele jeito para sempre. Parecíamos imortais. Logo passamos a ir a raves e usar outros tipos de drogas”

“Certa vez, me envolvi com um modelo muito problemático e tive minha primeira grande decepção sentimental. Para aliviar e esquecer aquela ‘dor de cotovelo’, me joguei ainda mais nas drogas químicas. Com isso, a depressão vinha sem dó e eu ficava bem mal. Meu corpo começou a mostrar sinais do que eu andava fazendo comigo mesma e, em poucos meses vivendo dessa forma, desenvolvi uma espécie de alergia na testa que provocava bolhas na pele que coçavam e ardiam muito”.

“Numa madrugada, comecei a cutucar e cavar a minha pele com uma faca. Fiquei toda marcada e ferida. Pedi ajuda da minha mãe, que me abraçou, chorou comigo e me acalmou. Nessa altura, ela já percebia que eu me tornara outra pessoa. Não era mais sua menininha de antes. Ela se propôs a me ajudar a vencer tudo aquilo”.

DE MODELO A VICIADA EM DROGAS

“Com essa marca no meio da testa, abandonei a vida de modelo. Me sentia um fracasso total, não queria ver mais ninguém. Comecei a comer loucamente, misturando tudo que encontrasse pela frente. Já não me reconhecia no espelho. Fiquei um ano e meio só no meu quarto trancada. Meus pais tentavam me ajudar, em vão”

“Diversas vezes, mamãe me dizia, chorando, que se pudesse estaria passando tudo aquilo no meu lugar sem nem pensar duas vezes. Só as mães são capazes de fazer isso. Foram inúmeras as ocasiões em que minha mãe conversou comigo, buscando me motivar, me levantar, me incentivar. Tentou me levar a psicólogos e psiquiatras e nada dava jeito. Perdi as contas de quantos abraços apertados de conforto ela me deu e quantas lágrimas derramou ao meu lado. Chegou uma fase, que eu só saía de casa para comprar cigarros. Em questão de poucos meses, pulei dos 50 quilos para quase 100”.

“O submundo dos usuários da cocaína se encontra em muitos pontos com o dos usuários do crack. Quis experimentar também. Logo na primeira tragada, acho que já me viciei. E aí, começaram três anos de um sofrimento pavoroso, que me acompanhou dos 19 aos meus 21 anos de idade”.

“Quando a pedra acabava, vinha o desespero e o sentimento de morte, que é insuportável. E vinha também a culpa. Eu não via mais saída. Fui parar até a cracolândia, onde passei dias naquelas pensões imundas de viciados, me drogando por dias e dias intermináveis. O pior dia da minha vida foi quando minha mãe descobriu que eu estava viciada em crack. Vinte e um ano se passaram e ainda posso ver o seu olhar assustado”.

“Eu já estava usando, há mais de seis meses, mais de 10 pedras de crack por dia, mas é como se no tempo em que estava usando sem minha mãe, mantinha a coisa no meu mundinho fechado. Eu desabei e foi aí que a coisa se tornou real para mim. O mais ridículo é que eu ainda quis negar. Depois assumi, mas prometi que eu ia mudar de vida. Eu gostaria de dizer que isso me fez mudar totalmente, mas não foi o que aconteceu. Eu me afundei ainda mais após decepcionar a minha mãe”

“Fugi de casa e fiquei longos períodos andando com traficantes, bandidos, prostitutas. Vi gente apanhando de traficante, tendo overdose perto de mim. Era horrível. Eu não tinha mais esperanças. Quando sentia uma sensação de morte, pensava na minha mãe e no quanto eu queria um abraço dela”.

RESGATADA DA CRACOLÂNDIA

“Um dia, em um hotel boca de lixo, três homens vestidos de branco vieram me buscar. Tentei resistir, eu já sabia o que estava acontecendo. Acordei numa clínica de reabilitação para dependentes químicos onde fiquei por seis meses me recuperando. Minha mãe me resgatou do inferno. Só que eu ainda não tinha entendido algo muito sério e que é o único jeito de qualquer pessoa que sofreu com o vício um dia se recuperar: é preciso internalizar a verdade que não dá para usar e ponto final. Ao total, fui internada quatro vezes. Na última, a realidade bateu forte: se eu usasse de novo, sabia que iria morrer”.

“Um dia, em um método da clínica chamado confronto, um monitor leu uma conversa com a minha mãe. Me mostrou que ela não aceitaria mais que eu a destruísse, enquanto eu me matava lentamente. Foi o segundo pior dia da minha vida. Tive um forte impacto emocional e decidi que era hora de dar um basta. Impacto esse que se deu pelo amor imensurável que sinto pela minha amada mãe. Ela me salvou, nunca desistiu de mim, enquanto todos já não acreditavam mais”.

“Minha mãe foi a pessoa que não desistiu de me encontrar, mesmo precisando ir aos lugares mais horríveis e imundos atrás de mim. Ela me salvou quando decidiu tomar as rédeas da situação. Ela salvou minha vida inúmeras vezes. Ela me salvou quando e porque decidiu se salvar também”.

Bianca encontrou na mãe, Arlete, força para superar o vício em drogas – Foto: Arquivo Pessoal

GRATIDÃO

“Tenho muita gratidão pelo ‘Narcóticos Anônimos’, pois sem frequentar as reuniões dificilmente teria esse processo, repleto de altos e baixos, quanto me libertei desse vício, aos 21 anos. Desde então, estou limpa. Nunca mais usei crack ou outra droga, não bebo álcool e não fumo. Desde o meu renascimento, são mais de sete mil dias livre do crack e de qualquer outra dependência química”

“Aos poucos, fui descobrindo algo que amo fazer que é me comunicar e ajudar outras pessoas que também se encontram perdidas, sem rumo. Me dediquei totalmente e iniciei vários cursos de auto ajuda e transformação. Me formei na faculdade de comunicação social. Em 2010 conheci o João, amor da minha vida, e nos casamos em 2015. Dei à luz nosso filho, João Mateus, em dezembro de 2016. Desde o seu nascimento, percebi que precisava resolver a minha inabilidade de lidar com minhas emoções. Precisava reaprender a me amar”.

“Em 2018, fiz meu primeiro curso de coaching na Febracis e fiz cursos nacionais e internacionais, onde descobri coisas lindas em mim, como o quanto eu me importo com as pessoas, como sou inteligente, bem humorada, corajosa, amorosa e amada. Aceitei de vez a minha história, passei a ter orgulho de contá-la. Aprendi a compartilhar a minha dor e a me amar de um jeito tão extraordinário e tão consciente que já pude ajudar muitas pessoas a se descobrirem tão fortes quanto para também vencerem os seus piores pesadelos”.

“Eu sei que todos desistiram de mim, por mais que quisessem acreditar, eu não parecia ter saída. Mas hoje, dedico a minha vida e a minha vitória a dona Arlete. Perdi quase tudo que tinha, menos o amor e a esperança da minha mãe”.

Bianca Pagliarin e sua família – Foto: Instagram/Bianca Pagliarin

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