Bispo Edir Macedo teria US$2 Bilhões não declarados
O Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) aponta, na ação que corre na Justiça paulista, que o fundador da Igreja Universal, Edir Macedo, tem um patrimônio não declarado de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 3,8 bilhões). As informações estão na edição desta quinta-feira (13) do jornal “O Globo”.
Segundo os dados citados pelo jornal, apesar da estimativa do Coaf, o cadastro da Receita Federal registra que Macedo tem apenas participação na Rádio Copacabana, “não sendo ele responsável por nenhuma outra empresa”. Ainda de acordo com o órgão do Ministério da Fazenda, como citado na publicação, entre 1996 e 2007 não foi achado nenhum registro de aquisição imobiliária no nome dele — e nenhuma operação financeira foi encontrada.
Macedo é réu, junto com outras nove pessoas, em processo de lavagem de dinheiro. Um dos acusados do grupo é Marcelo Pires, que teria sido sócio de Macedo na aquisição da TV Itajaí, em Santa Catarina. De acordo com o publicado no jornal, Pires disse ao MP que foi intimidado por seguranças da igreja ao se recusar a assinar papéis de empresas controladas pela Universal nas quais aparecia como sócio, num esquema que o utilizava como “laranja”.
De acordo com a denúncia do MP, Pires, que era pastor da igreja, relatou que Macedo comprava empresas “do interesse da igreja” e colocava pessoas de confiança como sócias “laranjas”. Além da TV Itajaí, Pires também teria sido convocado para ser sócio da TV Xanxerê (em SC) e da Unimetro (em SP), que geria imóveis da igreja e é citada na ação.
O jornal procurou o advogado Arthur Lavigne, como indicado pela Universal, mas ele não foi encontrado.
Doações feitas por fiéis teriam sido usadas para compra de R$25 Milhões em imóveis
O dinheiro das doações dos fiéis da Igreja Universal comprava carros, imóveis, aviões e empresas. A denúncia aparece em documentos publicados pelo jornal “O Estado de S. Paulo” que revelam operações suspeitas na compra e venda de bens em nome do líder da igreja, Edir Macedo, e outras nove pessoas acusadas de desviar o dinheiro das doações.
De acordo com “O Estado de S. Paulo”, o relatório do Coaf (conselho de controle de atividades financeiras) mostra que uma das empresas que mais receberam recursos da igreja – através de operações de triangulação de empresas – foi a Rádio e Televisão Record. O jornal destaca que, entre 1996 e 2007, o grupo movimentou R$ 25,6 milhões para comprar imóveis acima de R$ 1 milhão.
Entre esses imóveis, segundo o relatório do Coaf mencionado pelo jornal, estão um prédio em Salvador – comprado em 1999 por R$ 8 milhões; uma casa comprada por mais de R$ 3 milhões e um terreno por mais de R$ 4 milhões em 2001 em São Paulo; e dois terrenos, um de quase R$ 8,5 milhões e outro de pouco mais de R$ 1,7 milhão, em 2006, no Rio de Janeiro. Os dados estão no relatório que analisou o patrimônio pessoal do fundador da Universal, Edir Macedo.
Esses recursos viriam de doações de fiéis. Donativos e dízimos são legais e devem ser usados apenas em obras assistenciais e na manutenção dos templos. Por isso, são livres de impostos. Mas o Ministério Público afirma que o dinheiro arrecadado pelo bispo Edir Macedo e por outros acusados teria sido depositado em paraísos fiscais no exterior e voltado ao Brasil, em beneficio dos réus.
Outro lado
O advogado Arthur Lavigne, representante dos réus, disse não que não acredita na existência de provas das denúncias e que só voltará a se manifestar depois de consultar diretamente os autos do processo.
Parlamentares
Em Brasília, políticos comentaram as investigações do Ministério Público.
“É um impacto muito grande, e aí nao se trata de prejulgar. Mas se trata de dizer: a Justiça tem de tomar uma decisão que é apurar e decidir”, afirmou o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP).
“Essa mistura da fé das pessoas com televisão, com política, isso não tinha como terminar bem. E não vai terminar bem”, disse o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O senador Marcelo Crivella – do PRB do Rio de Janeiro -, que é sobrinho de Edir Macedo e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, criticou em plenário a ação em que o tio e mais nove pessoas são acusadas de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
“Essa tese de que pastores tenham pego dinheiro de ofertas, mandado para o exterior e assim financiado recursos para enriquecer, isso não é novo. Isso ja foi denunciado em 1993, com denuncia apócrifa. De lá para cá, a Polícia Federal, a Interpol, o FBI, a Receita Federal e finalmente o Supremo Tribunal Federal concluÍram que as denúncias não tinham fundamento.”
Globo diz estar dando tratamento equivalente à Universal
Em nota enviada para responder perguntas de Terra Magazine, a Central Globo de Comunicação afirma que está dando ao caso Universal “tratamento equivalente” ao que deu a outros casos, como a deflagração da Operação Satiagraha, em julho do ano passado. Segundo a nota, enquanto a matéria da última terça-feira, 11, teve dez minutos, a matéria sobre a operação teve 12.
Minutos antes, em outra resposta, a mesma Central Globo de Comunicação classificou a edição de ontem do Jornal da Record como uma “agressão gratuita”.
Leia a íntegra das duas respostas da emissora:
Primeira resposta – “Não nos cabe responder a essa agressão gratuita, porque, como é do conhecimento geral, o autor das denúncias é o Ministério Público de São Paulo. O que a TV Globo tem feito, assim como os demais veículos de comunicação, é registrar essa informação, de evidente interesse público. Central Globo de Comunicação.”
Segunda resposta – “A TV GLOBO deu à ação criminal contra Edir Macedo e outros nove denunciados ligados a ele, acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, tratamento, em termos televisivos, absolutamente equivalente ao que deram ao mesmo assunto grandes jornais da mídia impressa do país. A Folha de S. Paulo, a primeira a dar a notícia junto com o jornal O Globo, deu o caso em manchete de primeira página, em seis medidas e duas páginas internas. O Estado de S. Paulo deu uma página e meia na quarta e duas páginas hoje, sempre com chamadas na primeira. Além disso, as acusações foram destaque em grandes jornais dos cinco continentes, o que revela a relevância do tema. O JN, no primeiro dia, deu dez minutos ao assunto, mas, destes, dois minutos foram dedicados ao advogado dos réus, Arthur Lavigne. Apenas a título de comparação, no último caso de expressão nacional envolvendo lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, o tempo foi semelhante, levemente maior. O JN dedicou 12 minutos ao caso Opportunity, quando este veio à tona em 8/7/2008. A TV GLOBO faz jornalismo. Isso pode incomodar a quem se vê com problemas com a Justiça, mas é um serviço indispensável ao público. Central Globo de Comunicação.”
Fonte: Gnotícias