Uma história surpreendente, de que uma mãe simularia câncer na própria filha de 4 anos a fim de conseguir doações para o tratamento dela, está sendo apurada pela polícia.
A acusação contra a dona de casa Edilaine Vieira, 20 anos, surgiu na sexta-feira, depois que mulheres que fazem parte da Igreja Assembleia de Deus levaram a menina para o Hospital do Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci) e descobriram a verdade. Edilaine disse ontem que a filha teve câncer, mas não mostrou nenhum resultado de exame ou laudo médico.
Tubinhos plásticos – iguais aos de caneta esferográfica – enfiados debaixo da pele, na barriga e na cabeça, e bandagens com manchas de sangue, surpreenderam Cláudia Aparecida de Oliveira dos Santos, 33, que ao saber da doença se dispôs a ajudar Edilaine a arrecadar recursos para o tratamento e remédios. Até um evento religioso, com orações e apresentação de música gospel, estava marcado para os dias 7, 8 e 9 de julho, na Igreja Quadrangular do Jardim Capitão.
A menina de 4 anos e a irmã mais nova, de 2, foram tiradas da mãe pelo Conselho Tutelar. Cláudia e a cantora gospel Néia Oliveira, ambas da Assembleia de Deus, contaram ontem à reportagem que há duas semanas souberam que a filha de Edilaine estava com câncer e foram visitá-la, na Vila Barão. Viram a menina e se impressionaram. Além das bandagens, aparentava sonolência, talvez por algum medicamento que Edilaine tenha dado à criança, segundo Cláudia e Néia.
As duas mulheres se sensibilizaram com a doença, se prontificaram em ajudar e mobilizaram a comunidade religiosa. O pastor Rubens Aparecido Miguel visitou Edilaine e conversou com ela para saber do problema. Cláudia e Néia disseram que Edilaine não apresentou nenhum comprovante médico da doença na filha, mas dizia que precisava de dinheiro para o tratamento que era feito no Gpaci, em Sorocaba, e também em hospitais de São Paulo. As duas chegaram a entregar R$ 480,00 para ela.
Cláudia conseguiu uma consulta no Gpaci para sexta-feira, mas Edilaine resistiu. Ela teria fechado o portão da casa, deixando Cláudia para fora, e depois aparentou uma crise nervosa. Cláudia levou então Edilaine e a menina em seu carro para o Hospital Regional. Pediu ajuda à Polícia Militar e uma viatura foi na frente abrindo caminho. Enquanto Edilaine ficou no Hospital Regional, Cláudia levou a menina para o Gpaci. Segundo Cláudia, o médico constatou que a criança não tinha câncer e estranhou os tubinhos plásticos enfiados sob a pele no seu corpo. “Mamãe que põe”, teria dito a menina. A reportagem tentou contato ontem à tarde com o médico que atendeu a menina, mas não conseguiu falar com ele.
“Como eu faria uma coisa dessa com minha filha”, disse Edilaine. Ela negou que tenha simulado a doença. Também disse que não pediu ajuda. A acusação da polícia contra ela é de lesão corporal e de submeter criança à vexame. Edilaine não está presa. Cláudia afirmou que recebeu ameaças pelo telefone, inclusive ontem à noite, depois que a reportagem conversou com Edilaine. A cantora Néia conta que pedia um milagre a Deus para salvar a menina. “Ela agora está salva”.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul/Gospelmais