BERLIM – O caricaturista dinamarquês ameaçado de morte por suas charges de Maomé, Kurt Westergaard, está em paradeiro desconhecido e sob proteção dos serviços secretos do país, após ter deixado o hotel no qual estava hospedado por razões de segurança.
“Os serviços secretos dinamarqueses – PET – nos ajudam e as mudanças são algo ao qual é preciso se acostumar. Minha mulher faz as malas apenas com o necessário e partimos”, disse Westergaard em entrevista publicada neste sábado, 23, pelo jornal alemão “Frankfurter Rundschau”.
O chargista, de 73 anos, e sua esposa, de 65 anos, deixaram sua casa há três meses e, desde então, moraram em diferentes endereços. O último foi em um hotel da Dinamarca o qual precisaram deixar esta semana a pedidos da direção do estabelecimento.
Westergaard encara o assunto com bom humor e diz que atualmente o PET “é a grande autoridade da minha vida”, já que decide seus passos, até o ponto de sua esposa se despedir do chargista com um “Até a vista e que o PET te acompanhe”, conta.
O caricaturista conta ao jornal que continua trabalhando para o periódico “Jyllands-Posten”, mas não dá detalhes sobre onde fica seu escritório por razões de segurança.
Westergaard acrescenta que não se sente responsável pelo ocorrido após a publicação de suas charges, porque entende que em seu ofício a ironia entra em jogo. Ele lamenta, no entanto, as mortes ocorridas nas manifestações no mundo islâmico contra seus desenhos e responsabiliza por isso “os que têm o poder, que incitaram as massas”.
“Há uma história de Picasso, ao qual um oficial nazista perguntou “Foi o senhor quem fez o (quadro) Guernica?”, e o pintor respondeu: “Não, foram os senhores””, lembra o desenhista dinamarquês.
As medidas de segurança em torno de Westergaard e a expulsão do hotel aconteceram depois que a Polícia dinamarquesa deteve três homens, dois tunisianos e um dinamarquês de origem marroquina, suspeitos de preparar um atentado contra o chargista. Por causa disso, os principais jornais do país voltaram a publicar a polêmica charge do profeta, por considerar o complô um atentado contra a liberdade de expressão.
Em setembro de 2005, o “Jyllands-Posten” publicou uma dúzia de charges do profeta Maomé, que inicialmente passaram despercebidas, mas que meses depois geraram uma onda de protestos em vários países de religião islâmica,com manifestações que chegaram a provocar mais de cem mortes.
Fonte: Estadão