Poucos metros separam dois points da juventude carioca: a Praia do Pepê e o templo da igreja Bola de Neve Church, ambos na Barra da Tijuca. Na praia, os surfistas usam as pranchas para pegar onda e, nos cultos, elas estão no altar.
É isso mesmo. Criada há quase uma década por um surfista de São Paulo, Rinaldo de Seixas Pereira, a igreja nasceu com o objetivo de aproximar os jovens da religião. Hoje, os cultos mostram que a meta foi alcançada. Qualquer um dos 75 templos espalhados pelo País fica lotado de meninas e meninos bronzeados, bonitos, malhados, tatuados. De quebra, ela também está conquistando famosos como os atores Guilherme Berenguer, Fernanda Vasconcellos, Thiara Palmieri, Alexandre Frota e o cantor e ex-Raimundos Rodolfo. O que atrai tanta gente? Há, certamente, mais de um motivo. O púlpito em forma de prancha, a pregação embalada pelo reggae, a Bíblia com imagens de esportes radicais na capa, além de pista de skate. O culto parece uma festa. Mas os preceitos bíblicos, entre os quais virgindade até o casamento, são o centro das atenções. Segundo Eduardo Refkalefsky, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em comunicação religiosa, o sucesso está justamente no equilíbrio entre forma e conteúdo: “A Bíblia é apresentada com uma linguagem jovem. A informalidade é atraente e gera identificação”, afirma.
Cânticos em ritmo de reggae e rock dão início à reunião. Os nossos jovens dançam, acompanhando os passos de duas dançarinas que agitam lenços coloridos. De calça jeans, tênis e camisa florida, o pastor Gilson Mastrorosa, 33 anos, sobe ao altar meia hora depois. “A igreja tá bombando”, diz ao microfone, arrancando palmas dos fiéis, que ainda procuram um lugar para sentar ou mesmo ficar em pé. Ele pára e observa a movimentação. De repente, se joga no chão, simulando um cochilo. As gargalhadas são inevitáveis. “Pára de palhaçada. Vamos prestar atenção”, pede, ainda rindo, ao se levantar. Mas as brincadeiras continuam, mesmo durante o casamento de dois vendedores que superaram uma crise conjugal – claro, graças à Bola de Neve. “Deixa ver se essa aliança não é dá China”, brinca, antes de celebrar a união de Fernanda de Lucena e Roberto de Azevedo, ambos de 33 anos. “A gente não faz tipo de pastor. No altar somos nós mesmos”, afirma, convencido de que isso é uma vantagem. Cunhado de Rina, foi ele quem instalou a igreja no Rio, há cerca de três anos. Nos primeiros seis meses, as reuniões realizadas em uma sala de um edifício comercial, na Barra, tinham apenas uma dúzia de freqüentadores. Hoje, o salão para 600 pessoas está pequeno e, por isso, será ampliado em breve. Sem contar que a zona sul deve ganhar um templo ainda este ano.
Fonte: IstoÉ