Minas Gerais

Renda domiciliar dos mineiros cresceu 60% em 15 anos

Com dinheiro no bolso e melhor qualidade de vida, mineiros trocam hábitos antigos por computadores, celulares, geladeiras e televisões.

Até o ano passado, o motorista Aílson José Alves, de 46 anos, mal conhecia computador e telefone celular. Isso mudou. Os equipamentos passaram a fazer parte da vida da família em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, depois da decisão radical de trocar o campo pelo trabalho urbano. “Antes, a vida era mais tranqüila, mas não havia nenhuma expectativa de melhora”, conta o ex-agricultor que, com a mulher, Edite, e duas filhas, se transformou em exemplo da mudança do perfil de consumo das famílias típicas mineiras, turbinada pelo aumento de 60% na renda domiciliar nos últimos 15 anos (até 2006). Tradições foram quebradas para dar espaço ao acesso maior àtecnologia da informação e ao conforto oferecido pelos eletroeletrônicos da era moderna.

A vida doméstica mudou do desenvolvido Sul de Minas às regiões menos favorecidas pelo desenvolvimento econômico, com a recuperação dos salários, a expansão do crédito e o crescimento recente do estado. Em quase dois terços dos domicílios de Minas, falar via telefone celular virou rotina. O número de residências servidas pela telefonia móvel mais que dobrou desde 2001, ano em que o país incluiu o aparelho nas estatísticas oficiais sobre o consumo interno. O computador já faz parte de 21,7% dos lares, universo que, embora ainda limitado, é bem superior aos 10,7% observados sete anos atrás e alcança cerca de um terço das famílias na Grande Belo Horizonte.

Nos serviços essenciais à qualidade de vida, como escoamento adequado de esgoto, as condições das famílias melhoraram de forma surpreendente. Redes coletoras e fossas sépticas servem a mais de três quartos (76,6%) dos municípios de Minas, posição que, apesar de perder para 17 estados, evoluiu de 56,3% em 1992 e está acima da média nacional, de 70,7%. Os avanços conquistados pela população dentro de casa constam de um estudo feito com exclusivamente para o Estado de Minas pelos pesquisadores do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), André Urani e Samuel Franco, e o estudante de economia Gustavo Castro.

Os pesquisadores usaram a base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento contemplou, em 2006, 6,2 milhões de famílias mineiras e 58,3 milhões de famílias brasileiras. O Iets, instituição privada financiada por fundações, organismos internacionais e entidades de classes dos setores privado e público, se dedica à produção e análise de dados socioeconômicos e à formulação de propostas de políticas públicas.

Comportamento

O aumento de 60% da renda domiciliar no estado no período de 15 anos analisado explica boa parte do comportamento das famílias em Minas. A renda média dividida pelo número de pessoas saiu de R$ 343 em 1992 para R$ 548 em 2006. Apesar de permanecer num nível muito baixo, o poder de compra dos mineiros melhorou mais do que a média nacional, que saltou 48,19%, de R$ 391 para R$ 579, observou André Urani, que é também professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Em valores, a renda domiciliar mineira era a menor do Sudeste em 2006, mas cresceu mais e se aproximou da média nacional. É um fato importante, porque retrata o poder de compra das famílias”, afirma. Em 1992, a capacidade de consumo familiar em Minas estava 12,4% abaixo da renda brasileira, diferença que caiu, 15 anos depois, para 5,4%.

O ganho foi sentido de perto por um mineiro que deixou a dura vida no interior de Minas, na cidade de Mendes Pimentel, Vale do Rio Doce, para tentar melhor sorte em BH. Amantino Marques da Rocha, de 77 anos, vendeu peixe nas ruas até conseguir negociar um pequeno sítio e usar o dinheiro na Mercearia da Família, que montou como um puxado da casa onde mora no Aglomerado da Serra, Zona Sul da capital mineira. Atrás do balcão dia e noite, acompanhou, principalmente, nos últimos cinco anos, clientes mais dispostos a consumir com algum alívio no orçamento. “A situação do país melhorou muito. Criei meus filhos, aumentei a mercearia e não devo nada a ninguém”, afirma. Com o trabalho duro no negócio próprio, Aman tino construiu os cinco quartos do sobrado onde mora, equipou todos eles com aparelho de televisão e comprou carro.

Fonte: Uai

Thalles Brandão

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