“Quem aqui já ganhou uma pessoa pra Jesus? Fala sério. Pelo menos uma. Ora, se a gente conseguiu tirar alguém da mão do diabo, não é possível que a Dilma seja pior do que o diabo (risos). A gente convence”.
Difícil encontrar uma ocasião que mais simbolize a mistura de política e religião que tomou conta do segundo turno da eleição presidencial do que a ocorrida na quarta-feira, 21, na Comunidade Cristã El Shaddai, igreja evangélica localizada no bairro Ipiranga, na capital paulista.
A convocação urgente – endereçada em convite eletrônico a pastores batizados de “Generais de Guerra” – é um caso exemplar de como o segmento religioso entrou de corpo e alma na campanha à Presidência.
É o caso de Renê Terra Nova. Apoiador de Marina Silva (PV), ele embarcou de Bíblia e notebook em seu avião – um Falcon 010, comprado no ano passado – para fazer campanha país afora para José Serra (PSDB) no segundo turno. Tomou para si a tarefa de empreender uma grande cruzada pelo tucano, como fizera para a candidata do PV.
Na reunião política, Renê Terra Nova ensinou diversos truques para driblar a legislação eleitoral e enviar mensagens subliminares de apoio a José Serra durante as pregações nos cultos (leia abaixo). O apóstolo ressaltou muito a importância da internet como uma “ferramenta poderosa” de persuasão fora do púlpito.
“Correio eletrônico, You Tube, Facebook, Twitter, e-mails, MSN, se vire nos 30. Começe a mandar informações”, ordenou a seus pastores, depois de se vangloriar de ter 14 mil seguidores no Twitter, mas não seguir ninguém.
Terra Nova abriu a reunião estratégica – que não escapou ao formato de culto, entremeada por orações e cânticos – dizendo que havia apenas 11 dias para fazer algo “grande”, ou seja, uma virada de José Serra sobre Dilma Rousseff (PT).
Com o poder da palavra e uma alta dose de marketing, Terra Nova multiplicou fiéis, aumentou seu poder econômico e, agora, afirma, pretende conquistar poder político, a partir do rebanho sob seu controle.
Renê Terra Nova está no topo da cadeia no Brasil. Ele trouxe o modelo – que surgiu na Coreia, nos anos 50 – depois de importá-lo da Colômbia em 1998. Viajou, à época, acompanhado de outra pastora, Valnice Milhomens, tida como a maior responsável pela difusão da candidatura Marina Silva no eleitorado evangélico. Valnice, porém, preferiu a neutralidade no segundo turno.
Nos cultos, vale até trocar monte por serra
“Explique porque Serra, mas explique também porque não o outro lado (…) ‘Ah, pastor, eu não sei como fazer’. Sabe sim, porque sabe tirar dízimos e ofertas”.
A frase do apóstolo Renê Terra Nova mostra até que ponto vai seu empenho em conquistar votos para o tucano José Serra.
Diante de mais de 100 pastores, Terra Nova ensinou como fazer campanha do púlpito, sem ser enquadrado na legislação eleitoral.
“É proibido na hora do culto. Você sabia disso. Pode ser enquadrado em crime eleitoral pelo TRE. Mas você pode fazer o que eu faço na igreja”, disse, ao iniciar a reunião estratégica em que deu dicas de como transmitir mensagens subliminares aos fiéis.
Terra Nova explicou que eles poderiam, por exemplo, mencionar uma passagem da Bíblia que remetesse ao número de José Serra. “Eu digo, olha, irmãos, eu vou ler Isaías [capítulo> 45 e eu descobri um versículo que fala sobre serra”, orientava.
Sem problema se a passagem em questão não se referir a uma serra propriamente dita.
“Deus diz que gosta que seus filhos estejam num lugar alto e subam a sua serra. O nome lá é monte. Mas eu ponho o nome que eu quero (risos na plateia). A tradução é minha. A hermenêutica é da Bíblia, mas a exegese é minha”, disse.
Renê Terra Nova ressaltou que os pastores deveriam abusar da internet, mas sem vulgaridade, com informações verdadeiras. Em seguida, porém, apontou como fato mensagem que circulou pela internet segundo a qual Dilma Rousseff não poderia entrar nos Estados Unidos e mais 11 países.
Nos cultos, a recomendação foi de agir com inteligência. Terra Nova contou que não “é confortável” ser chamado pela Polícia Federal, como ocorreu com ele, três vezes este ano, para responder a inquérito por “problema político”.
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Adaptado por Redação Gospelminas
Fonte: Valor Econômico