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Gospel

Crentes montam ministério virtual para combater a pornografia sem moralismos.

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“Eu levo uma vida dupla. Sou pastor em período integral, mas na maior parte do tempo fico sozinho no escritório da igreja, baixando vídeos pornô na internet. Sinto-me simplesmente incapaz de conter isso”. A confissão, contundente em sua sinceridade, está na página virtual do ministério SexxxChurch (www.sexxxchurch.com), uma iniciativa que mistura muita originalidade, uma boa dose de ousadia e alguma polêmica. 

 

O site se propõe a socorrer almas perdidas no universo da pornografia, uma cadeia que a cada dia prende mais pessoas, inclusive crentes. Pelo menos um em cada dez evangélicos tem coragem de assumir problemas nesta área. Contudo, a quantidade deve ser bem maior, já que o receio dos efeitos negativos de uma confissão perante a família e a igreja faz com que muitos prefiram ocultar o desvio de comportamento.

Mantido por uma equipe ligada à Igreja Projeto 242, uma comunidade evangélica que fica no centro da cidade de São Paulo, o SexxxChurch não foi feito para crentes, já que tinha uma proposta evangelística. Mas em pouco tempo percebeu-se que a demanda principal estava situada do lado oposto da trincheira. “A maioria dos e-mails que recebíamos eram de pessoas que se identificavam como cristãos, membros de igrejas ou líderes, e que tinham enormes problemas com o vício da pornografia”, relata João Mossadihj, 25 anos, conhecido como Jota, um dos idealizadores da página deste ministério evangélico nada ortodoxo.

Em pouco tempo, a idéia transcendeu o ambiente virtual. Praticamente todo fim de semana, o grupo da 242 visita alguma igreja com o projeto Pornix, voltado a palestras sobre sexualidade e pornografia. A procura pelo serviço é grande, o que demonstra a extensão do problema nos arraiais evangélicos. Mas o ministério também costuma evangelizar em regiões como a da Rua Augusta, no centro da capital paulista, conhecido reduto de prostíbulos. SexxxChurch também marca presença na Parada Gay, ostentando camisetas com dizeres como “Jesus ama os atores pornôs”. Numa demonstração prática do conselho de Paulo, que recomendou que os cristãos fizessem de tudo para, de alguma forma, ganhar alguns, a equipe já faz planos para alugar um estande na Erótika Fair, feira especializada do mercado erótico que acontece em Outubro em São Paulo. O evento é uma prova do gigantismo de um setor que movimenta cerca de 500 milhões de reais ao ano apenas no Brasil – no mundo, são 60 bilhões de dólares anuais (leia abaixo). “Vamos distribuir Bíblias estilizadas durante a feira”, planeja Jota.

Mas é mesmo no mundo virtual que o SexxxChurch alcança números estratosféricos. Segundo Jota, são 600 mil acessos mensais e duzentos e-mails por dia. As mensagens são enviadas por gente nas mais diversas situações – algumas fazem confissões das mais indecorosas possíveis. No entanto, apenas 10% das mensagens são respondidas, contabiliza a psicóloga Sâmara Gabriela Baggio, 28, que acompanha boa parte desses casos. “Nós ouvimos e estabelecemos metas para a recuperação. Mas, para isso, é preciso que o viciado esteja realmente arrependido”, destaca a terapeuta. Para ela, não há limite seguro para o consumo de pornografia. “A partir do momento que uma pessoa entra em contato com isso, as imagens recebidas ou geradas na mente alimentam fantasias. Não demorará muito para que se tente colocar em prática tudo o que foi visto e fantasiado”, opina.


Dízimo e revistas pornô – O ministério direcionado a quem se sente escravo da pornografia foi inspirado no trabalho do pastor norte-americano Craig Gross, de 32 anos. Sua trajetória é semelhante à de boa parte das pessoas que ele decidiu ajudar. Craig era um jovem cristão que dividia seu dinheiro entre os dízimos e ofertas na igreja e as revistas pornográficas nas bancas. Ordenado pela igreja East Side Christian, em Fullerton, na Califórnia, ele criou a XXXChurch em 2002. A diferença entre ele e muitos outros pastores que sacodem suas bíblias no ar, esbravejando contra toda forma de imoralidade, está justamente no seu modus operandi. Craig, que se autodenomina “pornopastor”, abomina as abordagens moralistas, que já prenunciaram a queda de populares televangelistas de seu país (leia abaixo). É amigo do americano Ron Jeremy Hyatt, que vem a ser o principal ator e diretor de filmes pornô do mundo, com quem divide as bancadas de auditórios e igrejas para debates muitas vezes acalorados.

Alheio às críticas que costuma receber de muitos setores da Igreja Evangélica, sobretudo por conta de alguns conteúdos mais apimentados veiculados no site, Craig caminha com desenvoltura pelo submundo da pornografia. Dirige uma van estilizada com adesivos e adereços que lembram uma propaganda de site pornográfico. O “Porn Mobile”, como é chamado o veículo, já gerou até tumulto ao ser estacionado em frente a uma igreja evangélica. “A pornografia está conduzindo muita gente a um beco sem saída”, costuma dizer em suas pregações.

“Desde que conheci o trabalho de Craig Gross, fiquei empolgado e tentei contagiar o pessoal da igreja”, relata o pastor Sandro Ricardo Baggio, 40. Ministro ordenado pela Igreja do Evangelho Quadrangular, ele coordena o Projeto 242. Baggio animou-se com a possibilidade de falar sobre sexualidade na igreja, onde o tema normalmente é deixado de lado. “Já fazíamos isso em nossa comunidade local, mas não via ninguém falando sobre temas assim nas igrejas”, conta.

Dos planos à ação foi um pulo. No ambiente alternativo do Projeto 242 – uma congregação que reúne músicos, grafiteiros, designers e gente que faz da criatividade um veículo para a disseminação do Evangelho –, a idéia germinou rápido. “A curiosidade existe e faz parte do ser humano. Em algum momento da vida, toda pessoa se torna curiosa em relação ao sexo”, comenta Baggio. “Quando essa demanda não é atendida na família e na igreja, a informação acaba vindo de outros lugares. é aí que se abrem as portas à pornografia.” Ele conta que já aconselhou muitos casais crentes com problemas conjugais devido ao vício de um dos cônjuges, ou de ambos, em material pornográfico. “Alguns até se separaram”, lamenta.

Big Brother do bem – Um dos serviços disponibilizados aos usuários é um programa de computador chamado X3Watch, disponível para download gratuito. “É um software que possibilita a qualquer um – o cônjuge, o amigo ou até o pastor – fazer o cadastro de uma pessoa próxima, passando a receber um e-mail com um relatório mensal sobre os sites que foram acessados por ela”, explica o pastor. A idéia, que poderia até chocar muita gente, é uma espécie de Big Brother do bem, possibilitando um acompanhamento do viciado, ajudando-o a superar a dependência da pornografia. “Isso ajuda no processo de fuga dessa compulsão. Um dos passos fundamentais do processo é justamente admitir a fraqueza”, comenta Baggio.

Reconhecer o gosto pela pornografia é justamente o maior drama para quem freqüenta uma igreja evangélica. “Por não se falar sobre sexualidade, a igreja torna-se um lugar de intolerância. As pessoas preferem esconder suas dificuldades ao invés de procurar ajuda”, analisa o pastor. De acordo com Sâmara, o perfil dos internautas que enviam perguntas e pedem ajuda é de jovens evangélicos, com idade de 15 a 30 anos. “São pessoas que alimentaram, desde muito tempo, o vício da masturbação e do envolvimento com material pornográfico como filmes, contos eróticos, revistas e sites pornôs”, explica.

Quando a situação está fora de controle, é comum que a conversa saia do computador e vá para o divã. “A maioria dos casos atendidos gira em torno de lutas na esfera homossexual e da conduta cristã”, conta a psicóloga. Ela diz ainda que muitas pessoas justificam suas ações e inclinações pela pornografia devido a problemas no passado – principalmente, episódios de abuso sexual infantil. “Mas é preciso deixar as justificativas de lado e caminhar na direção da libertação”. Para ela, os efeitos da pornografia são devastadores, com reflexos no ambiente de trabalho, na vida social e nos relacionamentos pessoais. “Nos casos mais graves, pode-se chegar a extremos, como a prática de crimes sexuais como a pedofilia”, alerta.

Drama brasileiro – Uma pesquisa realizada pela empresa de tecnologia Symantec, no inicio deste ano, investigou os hábitos de sete mil internautas em países como Alemanha, Austrália, China, Estados Unidos e Japão, além do Brasil. E os resultados foram preocupantes, sobretudo por aqui – é no Brasil que mais se acessa sites com conteúdo pornográfico. De acordo com o levantamento, 55% dos internautas brasileiros visitam regularmente ou pelo menos já acessaram páginas do gênero. Além disso, o país está em terceiro no ranking de usuários que visitam sites de pornografia infantil e na vice-liderança quando o assunto é a produção de filmes pornô.

Espécie de irmã gêmea da pornografia, a pedofilia é um drama da sociedade brasileira. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, presidida pelo senador Magno Malta, que é evangélico, tem ajudado a desbaratar quadrilhas que fazem exploração sexual de crianças. Em conjunto com a Operação Carrossel, da Polícia Federal, já foram identificados 200 suspeitos de pedofilia. Nas páginas do Orkut, comunidade de relacionamento da internet, mais de três mil cadastros foram quebrados sob suspeita de abrigarem pedófilos.

Abalos no púlpito – Nos anos 1980, ele era considerado um paladino da moral e dos bons costumes. O pastor Jimmy Swaggart, um dos mais importantes televangelistas americanos, fazia de seus programas, transmitidos para mais de 40 países – inclusive o Brasil –, uma verdadeira trincheira na luta contra a carnalidade. Pregador eloqüente e carismático, Swaggart reunia famílias inteiras diante da TV e era crítico contundente da pornografia. Ironicamente, caiu justamente por causa dela, num episódio rumoroso envolvendo prostitutas e uma disputa pessoal com o também pregador televisivo Jim Bakker. Proprietário do canal de televisão PTL (Praise the Lord), com 12 milhões de telespectadores apenas nos Estados Unidos, Bakker acabou se tornando um rival de Swaggart. Tudo ruiu quando fotos suas, acompanhado de garotas de programa, chegaram à imprensa. Na época, atribuiu-se o vazamento das imagens a Swaggart.

O troco não demorou. Um detetive particular contratado por Bakker não teve muito trabalho para fotografar Swaggart diante de um motel, com o carro cheio de prostitutas. Sem saída, ele confessou que pagava para que elas fizessem strip-tease para ele. Perdoado pela mulher, Francis, ele foi à tevê, chorou e confessou-se arrependido pelo ato. Contudo, sua reputação e ministério foram irremediavelmente abalados.

No fim de 2006, outro escândalo sexual abalou a Igreja Evangélica dos Estados Unidos. Eleito pela revista Time como um dos 25 principais líderes cristãos do país, Ted Haggard admitiu consumir material pornográfico e o envolvimento sexual com um garoto de programa, que o denunciara publicamente. O caso provocou maior espanto porque Haggard era uma das principais vozes contra o homossexualismo.

Quem recentemente também admitiu problemas com o chamado mercado de “conteúdo adulto” foi o pastor australiano Mike Guglielmucci, do ministério Hillsong. Ele confessou, após dois anos declarando-se vítima de um câncer terminal – chegou até mesmo cantar com o auxilio de um tubo de oxigênio –, que sua única doença era o vício em pornografia. A farsa gerou um tremendo mal-estar no badalado grupo de louvor australiano. “Eu sou assim, viciado nesta coisa. Ela consome minha mente”, disse, em entrevista a um canal de tevê.   

. 68 milhões de pessoas acessam sites pornográficos no mundo, todos os dias

. 42% dos internautas freqüentam sites pornográficos e conteúdos relacionados

. 500 milhões de reais são faturados por ano, no Brasil, com pornografia

. 2,5 bilhões, é a quantidade de e-mails com conteúdo pornográfico enviados por dia

. 60 bilhões de dólares anuais, é o que rende o mercado pornô em todo o mundo

Fonte: Cristianismo Hoje

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