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Gospel

“A morte sentou na minha sala”, desabafa a presidente da MK

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Em texto divulgado no site da gravadora, Yvelise lamenta morte de filho e genro em acidente de ultraleve este ano, e desabafa. 


 


Em texto publicado no site da MK, a presidente do grupo MK de Comunicação, Yvelise de Oliveira, fala sobre a morte de seu filho, Benoni Assis Vieira de Oliveira, 45, e de seu genro, Sergio Ribeiro de Menezes, 43 – marido da cantora Marina de Oliveira. Os dois faleceram no dia 6 de fevereiro, com a queda de um ultravele na Lagoa de Jacarepaguá, no terreno do Clube Esportivo de Voo (CEU), na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).


 


Yvelise é casada com o deputado federal Arolde de Oliveira, escritora, e autora do livro Janelas da Memória.


 


Leia:


 


A morte entrou pela porta e sentou na minha sala


 


Dona Morte entrou pela porta da minha casa e se instalou confortavelmente em algum dos meus sofás.


 


“Essa senhora sinistra” começou com o meu jardim.


 


A casa foi feita para o jardim. Toda cercada de flores coloridas, as singelas “Marias sem vergonha” abraçavam tudo como em um buquê. Por dentro da casa e pelo lado de fora junto dos muros o colorido das flores, na rua, aconchegavam a frondosa amendoeira em um abraço carinhoso em frente à casa.


 


Mas as plantas foram morrendo sem motivo e o jardim todo florido foi ficando sem vida e sem cor…


 


Se foi o sol, o calor, muita água, o jardineiro mesmo não sabia dizer… Mas lutei. Comprei terra adubada e centenas de mudas de “Maria sem vergonha”, lilases, grama inglesa. Enfim, plantei tudo de novo, mas o jardim nunca mais foi o mesmo. Minhas orquídeas morreram aos montes no orquidário branco que fiz para cuidá-las. Amo plantas.


 


Indo mais fundo, Dona Morte matou minha gata Sara. A porta foi esquecida aberta e ela pulou para a casa da vizinha – morreu na hora. Os cachorros quebraram seu frágil pescocinho.


 


Lamentei por dias sua morte e chorei sentida a sua falta.


 


Mas a gente não sabe o futuro e esperei sempre que tudo fosse melhorar.


 


Sem doença, sem nada, a mãe do meu marido, D. Margarida, morreu. Uma morte serena. Dormiu e não acordou. Sua jornada tinha acabado.


 


Foi uma tristeza grande. O consolo ficou apenas na suavidade com que Dona Morte agiu.


 


Assim que a gente começa a respirar mais aliviado, o consolo vem vindo, porque minha sogra viveu 91 anos, jovial e saudável.


 


Nesse ano que passou nós a vencemos quando meu marido teve um câncer e pensei que iria perdê-lo. Mas a mesma fé que o curou completamente não consegui tirar o medo que veio morar dentro de mim.


 


Logo eu, tão segura, tão confiante, tão cheia de planos, passei a temer o confronto com ela: a “Sinistra Senhora”.


 


Depois passei a desconsiderá-la: “Não. Já perdi gente demais, um filho pequeno , minha mãe, meu pai, minha amiga querida. Perdas que fazem parte da vida quando se é jovem.”


 


Mas Dona Morte instalou-se. Minha casa grande, branca e bela tornou-se sua morada predileta.


 


Em um sábado de céu azul e o sol brilhando, um dia tipicamente carioca, a família se reuniu para almoçar. Na mesa, sorriso e comida farta, muito papo jogado fora.


 


Benoni, meu filho, tinha agora um novo hobby: voar de ultraleve, um avião monomotor.


 


Todos já tinham voado com ele: meus netos, sua esposa, meu marido e as centenas de amigos que ele, com seu jeito de menino grande e coração doce, conquistava.


 


Nesse sábado, ele me convidou animado: “Vamos, mãe, vamos voar, é lindo. A gente se sente um pássaro”. Emocionava a forma como ele descrevia o voo, uma aventura única, um prazer indescritível. Ver o Rio assim, de cima, sua cidade que ele tanto amava.


 


Vou enjoar, respondi, acabei de almoçar. Vou amanhã, eu prometo.


 


Meu genro, um jovem homem amável e tranquilo, nada dado a aventuras perigosas disse: “Eu vou. Vou fotografar todo o Rio, o Cristo. O dia está claro como cristal”.


 


Meu genro era um grande fotógrafo, tinha uma visão artística peculiar de luz e sombra.


 


Assim os dois saíram rindo felizes. O Sérgio, meu genro, com sua máquina super Nikon pendendo do pescoço. Alto, magro e sorridente como seu cunhado. Eram muito diferentes, mas tinham em comum a camaradagem.


 


Nesse dia claro e cheio de sol, Dona Morte resolveu dar um golpe fatal.


 


Enquanto o dia ía findando e o sol tornava o céu rosa em tons de púrpura e lilás, meu filho foi aterrizar seu avião, pequeno, leve como um brinquedo mortal.


 


O vento, sim, o vento que ele tanto amava virou o avião. Caíram na lagoa e morreram os dois na mesma hora.


 


Tantos planos, tantos sonhos, tanta juventude assim cortada, desperdiçada.


 


Morto meu filho, os bombeiros o tiraram da lagoa, o coloquei no meu colo. Pareceu dormir. Tão lindo.


 


Um garrote me apertou a alma. Uma dor assim não se limita, não se escreve, não se consegue sabotar.


 


Perplexa, vi que era verdade… Meu filho amado, meu filho morto, em meus braços eu embalei.


 


A dor é muito particular, íntima e, para mim, incurável. Não vou superar, já estou velha, cansada. Vou apenas suportar enquanto der, lutando para preservar a minha fé, manter o meu coração em Cristo, desejando que Deus permita que meu tempo aqui na Terra não seja tão longo.


 


Como não pude te dizer, meu Deus: Ainda não, ainda não. E rogar: Por favor, não o deixe ir agora. Não me lance nessa noite tenebrosa.


 


Yvelise de Oliveira

Fonte: MK/Guia-me

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