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Cinema

Elizabeth – A Era de Ouro chega aos cinemas – Leia a crítica sob a ótica cristã

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Foto: Reprodução

Deslubrante e honesto

A revista oficial do Vaticano, a Avvenire, criticou duramente “Elizabeth – A era de ouro”. O crítico de cinema da publicação acusou o longa-metragem de ser ”anti-católico e parcial”. Vamos convir, ele tem uma certa razão. No filme, os católicos são apresentados como os vilões e os protestantes, como mocinhos.

A produção acompanha um momento crucial da Europa do século 16: o rei católico Felipe II, da Espanha, em pleno calor da Inquisição, decide invadir a Inglaterra protestante de Elizabeth I (Cate Blanchett) para transformar o país novamente numa nação obediente ao Papa. Para isso, usa como pretexto a execução de Mary Stuart (Samatha Morton), prima católica de Elizabeth que governou o país por um tempo e empreendeu uma perseguição feroz contra os protestantes, martirizando muitos. Em meio a intrigas, espionagem e tramas de estado, a ”rainha virgem” se vê confrontada com sua própria humanidade e o peso de seu cargo.

Como o vinho que se torna melhor e mais encorpado com o passar do tempo, Cate Blachett volta, dez anos depois de ”Elizabeth”, com mais solidez e profundidade ao papel que a lançou ao estrelato. Cate mostra-se digna da nova indicação ao Oscar, numa interpretação própria de atrizes das melhores safras. Ela atua ao lado dos ótimos Geoffrey Rush e Samantha Morton e de um Clive Owen inexpressivo. O filme acompanha a grandiosidade da interpretação, com figurinos enebriantes e direções de arte e de fotografia que abusam do direito de deslumbrar os olhos do público. O diretor Shekhar Kapur faz dos enquadramentos e dos movimentos de câmera uma aula de boa direção. “Elizabeth – A era de ouro” é um filme político e maniqueísta mas, muito mais que isso, é uma obra feita para ficar gravada por um longo tempo nas nossas retinas. Sem meias-palavras: esteticamente, é lindo.

Espiritualmente, se por um lado os católicos são apresentados como intrigueiros, articuladores e belicistas, por outro os evangélicos ingleses não dão nenhum bom exemplo de santidade. Elizabeth ora na igreja à tarde mas à noite consulta um astrólogo. Fica claro que o adivinho tem uma enorme influência sobre a vida e as decisões da rainha, que busca nos astros respostas sobre o futuro de sua pátria e até de sua vida amorosa.

Os protestantes também são apresentados como fornicários. O sexo pré-marital é praticado sem reservas pelas damas de companhia da monarca, o que gera gestações indesejadas e até problemas políticos. Também fica claro que muitos protestantes o são muito mais por questões de Estado do que de fé, e demonstram ser sanguinários e pagãos.

O que nos leva de volta ao colega da Avvenire. Enquanto “Elizabeth – A era de ouro” de fato mostra os católicos como sombrios e articuladores, também apresenta os evangélicos como mundanos e pecadores. Ou seja: se o filme é anti-católico, também é anti-protestante. No final das contas, seu mérito está em mostrar o ser humano – seja ele de que linha religiosa for – como ele é: falho, decaído e pecador, necessitado desesperadamente de Cristo para obter a salvação. E, assim, é um filme bastante honesto, além de historicamente preciso. Por isso, o melhor é ignorar supostas intenções e desfrutar do espetáculo artístico e do relato espiritualmente franco que é “Elizabeth – A era de ouro”.

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