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ONU diz que consumo de drogas cresce no Brasil

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Relatório anual mostra que oferta de entorpecentes aumentou e produção foi ampliada sobretudo em regiões controladas por grupos rebeldes na Colômbia e no Afeganistão

Brasília – O aumento paulatino do poder aquisitivo nos países em desenvolvimento está abrindo novos mercados para o consumo de drogas e ameaça o sucesso relativo conseguido nas últimas décadas de combate à produção, ao tráfico e ao uso de substâncias ilícitas. Foi o que disse o representante no país do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), Giovanni Quaglia, depois da apresentação em Brasília do relatório anual do organismo. E o Brasil, mostra o documento, é um exemplo típico desse fenômeno, puxando a tendência de aumento registrada nos últimos anos na América Latina, enquanto o quadro global é de estabilidade: entre 2001 e 2005, o consumo de maconha no país aumentou 160%, enquanto o uso de cocaína avançou 75% – segundo dados do próprio governo brasileiro, relativos ao uso da substância pelo menos uma vez entre cidadãos com idade entre 15 e 64 anos.

É de alerta o tom do Relatório Mundial sobre Drogas 2008, lançado mundialmente pelo UNODC no Dia Mundial de Combate às Drogas. De acordo com o documento, mais de 208 milhões de pessoas no mundo – quase 5% da população entre 15 e 64 anos – usaram drogas ilícitas pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. "O aumento de consumo que vemos nos países em desenvolvimento mostra que existe potencial para o crescimento do mercado mundial", explicou Quaglia. "Não fazemos um balanço em termos de sucesso ou fracasso, mas podemos especular que a situação seria bem pior se nada fosse feito, como acontece em relação ao álcool e ao cigarro", pondera. O relatório do UNODC compara a taxa de consumo de drogas ilícitas entre a população adulta (menos de 5%) e os números correspondentes para tabaco (25%). "O verdadeiro sucesso virá apenas quando a oferta e a demanda realmente diminuírem em todo o mundo, em vez de se nivelarem", escreveu na abertura do documento o diretor-executivo do UNODC, Antonio Maria Costa.

O texto apresenta um número considerado "gravíssimo" pelo general Paulo Roberto Uchôa, titular da Secretaria Nacional Antidrogas, presente ao lançamento do relatório: 870 mil brasileiros (0,7% da população adulta) admitiram ter usado cocaína pelo menos uma vez no ano, segundo pesquisa divulgada pela própria Senad em 2005. Considerada baixa em relação aos países desenvolvidos, que exibem índices de dois dígitos, e mesmo em comparação aos 2,6% registrados na Argentina, a taxa de consumo brasileira coloca o país na posição de segundo maior mercado das Américas, atrás dos Estados Unidos — que contabilizam 6 milhões de usuários. E contribui para que o Cone Sul se firme como terceiro maior centro consumidor, depois dos EUA e da Europa. No caso da maconha, os números relativos e absolutos são ainda mais preocupantes.

CONEXÃO Além de mercado em expansão, o Brasil ocupa um novo lugar no mapa-múndi do narcotráfico, como ponte preferencial da cocaína que parte da Colômbia para a Europa com escala na África Ocidental — a nova rota que ameaça repetir, em países como Guiné Bissau e Cabo Verde, o processo de degradação das instituições pelo crime organizado vivido nas últimas décadas na América do Sul e no Afeganistão, que responde por 80% da produção mundial de heroína e outros derivados de ópio. Lá, como na Colômbia, onde cresceu em 27% a área de cultivos de folha de coca, o UNODC detecta uma conexão territorial entre o negócio das drogas e grupos armados irregulares — os talibãs afegãos e a guerrilha colombiana das Farc.

O Brasil se firma também entre os maiores consumidores per capita de anfetaminas, um gênero de drogas sintéticas que fazem caminho inverso ao percorrido pelas substâncias de origem natural — partem dos países desenvolvidos para o mundo em desenvolvimento. Como já fora constatado em 2007, o país registra uso crescente não apenas de ecstasy e das metanfetaminas ilícitas, mas também um alarmente índice de abuso dos remédios para emagrecer, vendidos legalmente.

Fonte: Jornal Estado de Minas

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