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Minas Gerais

Abastecimento de água já está à beira do limite na Grande BH

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Quando os termômetros da Avenida Afonso Pena marcarem mais de 30 graus em dias de forte insolação e baixa umidade relativa do ar em setembro, a estrutura de abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte estará mais uma vez à beira do limite.

É durante os chamados veranicos – períodos de estiagem e muito sol em plena estação fria – que o sistema gerenciado pela Copasa alcança 95% da sua capacidade de distribuição nos municípios da Grande BH. O mesmo percentual ocorre em meados de fevereiro e março, quando a demanda aumenta. A presença abundante de água no entorno da capital e cidades próximas seria motivo de tranqüilidade para quem mora na região, não fosse a pressão cada vez mais intensa e de mais diversificadas origens sobre as fontes que garantem água limpa na torneira de todos. Hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente e da Ecologia, o Estado de Minas mostra as agressões que ameaçam o abastecimento da Grande BH e traz à tona soluções sugeridas por especialistas para as próximas décadas. Ecologistas alertam que está nas mãos dos atuais gestores públicos a melhor chance para proteger o que resta de aéreas fundamentais à preservação dos mananciais. E insistem que é possível conciliar isso com o desenvolvimento econômico.

Dados dos sistemas produtores da Copasa mostram que o abastecimento da Grande BH chega perto do limite não apenas em veranicos. A demanda média da Grande BH equivale a 14 mil litros por segundo, 91,5% da capacidade de produção do sistema. O aumento do consumo nos últimos anos ocorreu em meio à escalada da temperatura média da capital – em 100 anos, a média cresceu 2,5 graus, mais de três vezes mais na comparação com o resto do planeta (0,7 graus). O fenômeno deu-se no mesmo contexto da explosão populacional de BH, cuja densidade demográfica ficou sete vezes maior nos últimos 57 anos – variou de 1,06 mil habitantes por quilômetro quadrado, em 1950, para 7,2 mil, em 2007, de acordo com o IBGE. Em tempos de estiagem, a folga de 5% do sistema não garante abastecimento para todo mundo, pois nem sempre é possível transportar água de onde ela sobra para onde falta.

Três grandes gargalos ameaçam a meta estabelecida pelo plano diretor da Copasa, de garantir o abastecimento da Grande BH com os atuais sistemas integrados pelo menos até 2015. Eles estão em áreas onde ocorreu ou há previsão de grande expansão urbana: Vetor Norte e entorno do novo centro administrativo estadual; região do Belvedere e Vale do Sereno, entre BH e Nova Lima; e às margens da BR-040, na região de Ribeirão das Neves. Até o fim do ano, deve ser concluída uma adutora de 17 quilômetros que ligará Neves, BH, Pedro Leopoldo e Lagoa Santa, ao custo de R$ 70 milhões. Espera-se que a obra alivie o problema de abastecimento no entorno da BR-040, perto do Bairro Veneza. No extremo oposto da capital, para atender a demanda de novos prédios e casas da região do Belvedere e Vale do Sereno, a estatal planeja ampliar a rede de bombeamento, além de construir uma adutora e um reservatório, ao custo de R$ 7 milhões. Para o Vetor Norte, as soluções ainda estão em fase de planejamento.

Se a expansão urbana obriga a empresa a correr contra o tempo, ela é também a grande ameaça aos mananciais que abastecem seis dos oito sistemas integrados de fornecimento da Grande BH. Na captação do Rio das Velhas em Bela Fama, responsável por 41% da distribuição de água da região, a ameaça é o esgoto. O mesmo ocorre na Várzea das Flores, represa cujas margens vêem sendo ocupadas por bares e residências. Na barragem do Rio Manso, o perigo se concentra no desmatamento, na ocupação urbana e na atividade minerária na Serra do Itatiaiuçu. Trata-se justamente da estrutura que terá capacidade de produção duplicada nos próximos anos. Mais que isso: a reserva é tratada como a que garante a “segurança do sistema da Grande BH”, nas palavras do gerente de Produção da Copasa, Délio Fonseca.

Preservação

Em até duas semanas, uma empresa de consultoria ambiental entrega ao Instituto Estadual de Florestas (IEF) estudo que propõe a implantação de corredores ecológicos metropolitanos e a ampliação das unidades de conservação dos mananciais – em especial, a área do Parque Estadual Serra do Rola Moça, que abriga seis mananciais e está perto de outros quatro. O EM teve acesso à última versão do documento, que propõe intervenções em toda a Grande BH para atender a dois objetivos: garantir a qualidade da água que abastece a metrópole e conservar a biodiversidade da região.

“BH é, a cada dia mais, uma grande malha urbana contínua. A ampliação das áreas evitaria a contaminação da água e garantiria melhor qualidade do ar”, defende o biólogo Francisco Mourão Vasconcelos, um dos responsáveis pelo estudo. Ele lembra que a cidade já perdeu chances de preservar essas áreas, mas sustenta: “Ainda é tempo para fazer coisas que terão custos inviáveis em três ou quatro anos”. A proposta prevê, por exemplo, que sejam incorporados ao Parque do Rola Moça o Parque Burle Marx, a Mata do Jambreiro e a Estação Ecológica de Fechos. Sugere, também, corredores unindo áreas atrás do Bairro Olhos d’água e outras regiões do Barreiro. Lá, uma área preservada equivalente a 880 campos de futebol protege o manancial da região, mas apenas na área de captação. Fora dela, córregos como o Capão da Posse são o retrato da degradação.

“A idéia é recompor a ligação de matas que estão segmentadas, tendo como base os fundos de vale urbanos. Seriam estabelecidos parques lineares e criados reservatórios para reduzir o aporte a canais coletores como o Arrudas”, explica Mourão.

Fonte: Uai

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