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Caso Isabella: “Ambos mataram Isabella”, diz promotor

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Isabella Nardoni – Foto: Reprodução

Para Francisco Cembranelli, pai e madrasta da menina são responsáveis pelo crime. Nesta terça-feira (6), o casal foi denunciado por homicídio triplamente qualificado.

O promotor Francisco Cembranelli disse nesta terça-feira (6) que o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da garota Isabella, são igualmente responsáveis pela morte dela. A menina, de 5 anos, morreu no dia 29 de março após cair do apartamento onde vivia seu pai, no 6º andar de um prédio na Zona Norte da capital paulista.

“Houve uma situação de acalorada discussão entre o casal e imediatamente depois houve a agressão contra a Isabella”, disse o promotor. Ele denunciou os dois por homicídio doloso – quando há intenção de matar – triplamente qualificado (meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e para ocultar outro crime).

Durante entrevista coletiva na tarde desta terça- feira, Cembranelli disse que a hipótese de uma terceira pessoa no apartamento – versão sustentada pelo casal – foi considerada ao longo do inquérito, mas acabou não comprovada. “O que existe na investigação é, não só uma prova robusta contra o casal, mas uma prova contundente que nenhuma outra pessoa ingressou no local naquela noite”, disse.

Além de homicídio, o casal irá responder por fraude processual. Segundo o promotor, Alexandre e Anna Carolina alteraram a cena do crime. “Em um primeiro momento, antes mesmo do arremesso do corpo, houve mudança significativa do local. Se não fossem as técnicas utilizadas, certamente teríamos comprometimento das provas periciais de maneira definitiva”, disse Cembranelli.

O promotor confirmou que há dois fatores que podem agravar a pena, em caso de condenação: o crime foi cometido contra menor de 14 anos e, no caso de Alexandre, contra descendente. Caso haja condenação, a pena mínima para homicídio qualificado é de 12 anos.

O advogado Ricardo Martins, um dos três que defendem Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, não quis comentar a notícia do oferecimento da denúncia feita nesta terça-feira (6) contra seus clientes e disse que o casal “continua muito abalado, preocupado e triste” por estar sendo julgado “precipitadamente”.

Prisão

O promotor também deu parecer favorável ao pedido de prisão preventiva feito pela polícia contra o casal. Para ele, a prisão de Alexandre e Anna Carolina trará “tranqüilidade ao processo”. “Eu descrevo o mau comportamento do casal, alterando a cena do crime, o que mostra que eles não estão comprometidos com o esclarecimento da verdade”, disse. Além disso, o promotor prevê que, caso eles fiquem soltos, o processo pode se estender por cinco ou seis anos.

A prisão, no entanto, só será decretada se o juiz, após analisar o pedido, der decisão favorável. Se a denúncia for aceita pela Justiça, Alexandre e Anna Carolina se tornarão réus no processo. Quando a polícia concluiu o relatório final sobre o caso, na quarta-feira (30), encaminhou o documento para o promotor e também para o juiz responsável pelo caso, Maurício Fossen, do 2o. Tribunal do Júri do Fórum de Santana.

A expectativa da defesa do pai e da madrasta da menina a partir de agora é ter acesso ao relatório final da Polícia Civil. É nele que a delegada-assistente do 9º DP (Carandiru), Renata Pontes, faz as observações finais sobre o caso. Os advogados só podiam fazer cópias do documento após o promotor oferecer a denúncia. O casal nega a autoria do crime e diz acreditar que uma terceira pessoa entrou no apartamento e jogou Isabella pela janela.

Um dos advogados do casal, Ricardo Martins, afirmou, na segunda-feira (5), que a defesa só entrará com pedido de habeas corpus se o juiz decidir-se sobre a prisão.

Perfil do casal

Apesar de não detalhar os motivos que teriam levado o casal a agredir Isabella, o promotor disse que o crime ocorreu após uma acalorada discussão. De acordo com a denúncia, a relação dos dois era caracterizada por “freqüentes e acirradas discussões, motivadas, principalmente, por forte ciúme nutrido pela madrasta em relação à mãe biológica da criança”.

De acordo com Cembranelli, o casal tem um perfil “conturbado”. “São pessoas que têm um perfil agressivo, isso foi demonstrado. Não há como fugir dessa conclusão”, disse. O promotor sustenta que os acusados jogaram Isabella conscientes de que ela estava viva. “A intenção foi dar solução a um problema que já existia”, acredita.

Para o promotor, o sangue encontrado no carro é de Isabella, apesar de esse fato não ser considerado por ele determinante para a denúncia. “Há provas de que o sangue é de Isabella, e não é só o DNA. É sangue recente, os peritos estão sendo chamados para esclarecer isso.”

Inquérito

A polícia de São Paulo se baseou em laudos da perícia, nos depoimentos de testemunhas e em deduções para escrever o relatório final do inquérito sobre a morte de Isabella Nardoni. O relatório final da polícia é assinado pela delegada Renata Helena da Silva Pontes, que comandou as investigações. O documento tem 43 páginas e faz parte do inquérito que foi entregue à Justiça na quarta feira.

A delegada é categórica ao dizer que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá mantiveram a mentira de forma dissimulada, desprezando o bom senso de todos, para permanecer impunes. O relatório mostra a versão da polícia para o crime e, segundo a delegada, levou em conta laudo do Instituto de Criminalística, lesões observadas na vítima e depoimentos de testemunhas.

Conclusões

A primeira conclusão é que as agressões começaram no carro da família: segundo o relatório, Anna Carolina Jatobá feriu Isabella na testa, com um instrumento não identificado. A madrasta segurava esse instrumento com a mão esquerda, virou-se para trás e alcançou o rosto da menina.

A delegada diz que houve sangramento, gotejando sangue no assoalho, atrás do banco do motorista, na lateral esquerda do carrinho do bebê e um esfregaço, uma espécie de borrão, de sangue na parte posterior do banco do motorista.

Depois da chegada à garagem do Edifício London, segundo a delegada, todos subiram juntos ao apartamento. Isabella estava no colo do pai. Alexandre a jogou no chão, diz o relatório, perto do sofá. Nesse local, observou-se maior concentração de sangue, não visível a olho nu, mas identificado graças a reagentes químicos.

Em outro trecho, a delegada diz que Isabella sofreu duas fraturas devido a um forte impacto, como ter sido atirada no chão. O sangue foi limpo e, ao que tudo indica segundo a delegada, com uma fralda de criança. Na noite do crime, a polícia encontrou uma fralda dentro de um balde. Segundo laudo do Instituto de Criminalística, reagentes químicos identificaram a presença de sangue na fralda.

Para a delegada, o pescoço de Isabella foi apertado por tempo considerável e de maneira forte, a ponto de a menina sofrer asfixia. O relatório menciona o fato de duas pessoas terem ouvido gritos de criança chamando o pai, pouco antes da queda da garota. A delegada afirma que a voz era do irmão dela, de 3 anos, que queria que o pai intercedesse, no momento em que a menina estava sendo asfixiada. Para a delegada, foi Anna Carolina Jatobá quem apertou fortemente o pescoço da vítima.

Renata Pontes afirma no relatório que há provas de ter sido Alexandre Nardoni quem jogou Isabella pela janela. As principais são as marcas da rede na camiseta de Alexandre e as marcas do chinelo que ele usava que ficaram num lençol.

Para a polícia, não há dúvidas do descontrole emocional do casal. Em vários depoimentos, há relatos de brigas, principalmente por causa do ciúme que a madrasta tinha de Alexandre e de Isabella.

Fonte: G1

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