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Igreja Católica realiza trabalho de casa em casa para resgatar adeptos e combater assédio de evangélicos

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Foto: Reprodução

SÃO PAULO – A Igreja Católica está formando missionários na arquidiocese para resgatar fiéis em suas casas. O objetivo é evangelizar pelo menos 100 mil católicos desgarrados. O projeto, chamado SIM (Ser Igreja em Missão), envolve 82 paróquias de 21 cidades da região de Ribeirão. A ação faz parte de uma campanha nacional para reverter o assédio das religiões evangélicas. Na região de Jundiaí, a expectativa é recuperar 500 mil fiéis.

A principal estratégia usada em Ribeirão é a capacitação de cerca de 2.500 missionários para levar a palavra de Deus de casa em casa. Visitas a enfermos, terços, procissões e até missas em condomínios também fazem parte do processo. O movimento, já posto em prática, foi lançado para selar o centenário da diocese e o cinqüentenário da arquidiocese de Ribeirão, comemorados em 2008.

“O projeto surgiu de consultas nas paróquias, que apontaram que as maiores necessidades eram com relação ao processo de evangelização”, explicou o padre Sérgio Donizetti Carmona, de Sertãozinho, coordenador de pastorais da arquidiocese.

A intenção, segundo ele, é renovar a imagem do catolicismo. “Os missionários se tornam limitados quando colocam muita burocracia para acolher o cristão. Acolher é ir ao encontro das pessoas na situação em que se encontram, não ficar olhando para sua vida. Se alguém não é casado na igreja, por que não pode batizar o filho?”, questionou. “Cristo acolheu todas as pessoas.”

As características do trabalho missionário variam conforme a realidade da paróquia. No Santuário Nossa Senhora do Rosário, na Vila Tibério, foram convocados cerca de cem missionários para visitar as casas da comunidade. “Eles procuram reunir grupos de partilha de vida e leitura orante da palavra de Deus, além de verificar as necessidades do bairro”, contou o padre Júlio César Melo Miranda, da Ordem dos Missionários Claretianos.

Agora, ele colhe os resultados. “Nas novenas de Natal, tivemos a participação de 700 famílias. Antes das missões, eram cerca de 120. Também há uma participação maior das pessoas nas missas, e as contribuições melhoraram consideravelmente, de 20% a 30%”, disse o padre Miranda. Além disso, uma escola particular montou um serviço de reforço e pré-vestibular gratuito e o Círculo Operário do bairro deve voltar a operar, com serviços médicos, psicológicos e de assistência social. “Vejo isso como fruto das missões.”

Na Catedral Metropolitana de Ribeirão, onde os freqüentadores, em geral, são itinerantes, o pároco Francisco Zanardo Moussa (padre Chico) optou por convocar os próprios padres e ministros da eucaristia para a tarefa. E tem funcionado. Hoje, a média de público é de 5.000 pessoas por fim de semana, contra 1.800 em 2003. Isso se refletiu no consumo de hóstias, que passou de 20 mil para 32 mil por mês.

“O projeto só veio reforçar o trabalho que já havíamos começado a fazer na catedral”, disse o padre.

Como o trabalho missionário no centro esbarrava na portaria dos prédios, que não permitiam a entrada, a saída foi iniciar a celebração de missas dentro dos condomínios. São seis por mês. “Nesses dias, vejo os doentes, faço visita nas casas”, disse.

Quem recebe a visita pode se sentir impelido a participar mais da religião. “Começaram a fazer terço na minha casa. Ouvia sempre falar das missões. Até que houve um encontro missionário, me interessei e fui”, contou Sílvia Simões, 39, da Vila Tibério.

‘Valores atuais afastam da vida religiosa’

O padre Luiz Roberto Benedetti, professor de teologia na PUC-Campinas, diz que, na realidade, a igreja como instituição nunca deixou de sonhar com uma sociedade cristã, e que se isso não acontece é devido à sociedade, que tomou outros rumos.

“Hoje, cada igreja se volta para si mesma numa tentativa de “recuperar” fiéis, num mundo cujo referencial de interpretação e sentido não é mais religioso. O próprio mundo religioso é envolvido pelo mundo da mercadoria, do consumo, da auto-ajuda, da emoção passageira, do sentimento. O que se esquece é que o quadro gerador dessas “infidelidades” a uma matriz de origem religiosa não está nas instituições religiosas, mas na sociedade. Ela se funda mais no efêmero, no passageiro, no gosto e preferência pessoais do que em verdades eternas”, afirmou.

Para ele, a Igreja Católica, ao se tornar midiática e lúdica para se aproximar da sociedade corre o risco de se distanciar de sua essência. “Ela tem que ter o que dizer. Não basta satisfazer pessoas e responder sobre problemas. A fé cristã problematiza a vida pessoal, as relações interpessoais e a estrutura social. Faltar um desses elementos deturpa o cristianismo. A igreja tem que ser sisuda e séria, mas tem que ter o senso de humanidade. Ela fala sempre do alto, dona da verdade. Tem que falar de dentro e a partir da situação histórica. [SENÃO]sua mensagem cai no vazio. E a mídia contribui para esvaziar ainda mais”, criticou.
(Gazeta de Ribeirão)

Escuta e respeito são marcas de visita

Uma das principais estratégias do projeto missionário é dar espaço para os fiéis expressarem seus sentimentos, sem impor a religião. “Visitas marcadas pela escuta e pelo respeito às diferenças”, orienta o texto do projeto.

“Nossa missão é sempre ouvir mais. Buscar as necessidades, procurando dar consolo”, explicou a missionária Mércia Bevilaqua Leonetti, 61, do Santuário Nossa Senhora do Rosário, na Vila Tibério.

“O projeto tem dado resultado, porque a pessoa se sente mais à vontade. Sabe que não estamos cobrando. Tudo é espontâneo”, disse o padre Angelino Venute, 51, que toda semana pode ser visto na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Beneficência Portuguesa.

“Faço unção de enfermos, confissão, tento dar conforto e esperança. Percebemos que a família fica descontrolada num momento assim e tentamos amenizar o sofrimento”, disse. Segundo o padre, quando recebem alta, alguns pacientes passam a freqüentar a missa. “Aos poucos a evangelização vai acontecendo”, afirmou ele, que iniciou o trabalho há três anos e o intensificou após o projeto.

Multiplicando os frutos

Mércia Leonetti, o marido e outro casal iniciaram as missões na comunidade em 2005. “Ficávamos pensando como iríamos atingir todas as casas do setor. A partir do projeto SIM, outros missionários vieram se juntar a nós. Hoje, são mais de 30 só nesse setor. Fizemos oito novenas em 2006. No ano passado, foram 17”, contou.

Nessas visitas, eles encontraram pessoas que não só voltaram para a religião como se tornaram missionários.

Foi o caso da cerimonialista Silvia Simões, 39, e de seu marido, o músico José Newton Simões Júnior, 40, que desde o final do ano passado ajudam na tarefa. “Mudou muita coisa na minha vida. A gente fica mais clemente, respeitando mais o próximo”, disse ela. “Senti um chamado mesmo. Não adianta forçar a barra, senão a pessoa fica até com raiva”, contou.

Fonte: Gazeta de Piracicaba

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