Qual era a religião da cantora Rita Lee?

Rita Lee, uma das maiores cantoras e compositoras da música brasileira, faleceu aos 75 anos nesta segunda-feira (08/05) em São Paulo, vítima de câncer de pulmão diagnosticado em 2021. A notícia foi divulgada pela família da cantora nas redes sociais.

RITA LEE TINHA RELIGIÃO?

Rita Lee preferia não ter partido nem religião. Em entrevista concedida em 2013 ao programa Viva Voz, do GNT, a cantora afirmou que considera a religião “o fim da picada”. Ela ainda questionou a revolta que algumas pessoas têm em relação a relacionamentos homoafetivos, argumentando que cada um tem sua interpretação da Bíblia.

“Por que a pessoa se revolta quando tem um homem com um homem? Uma mulher com uma mulher? Por que tanta revolta? Por que não pode? O que é que não pode? ‘Ah, porque é da Bíblia’… Ah não, bicho, não. Cada um tem a sua interpretação da Bíblia. Essas pessoas que chegam no poder, né? Tem uma coisa de poder, de tomar decisões… com essa cabeça”, disse ela. “Eu acho religião o fim da picada”, completou.

Em 2014, em um bate-papo com internautas no site da UOL, Rita Lee afirmou que o Deus que ela via era o “universo” e considerava uma arrogância os humanos se acharem filhos de Deus. Ela ainda relatou que Deus era um mistério e não acreditava que Ele respondia através de um intermediário.

“Rita, a música ‘Reza’ fala sobre proteção divina, eu queria saber o que é Deus pra você? Você já pediu proteção pra Ele?”, perguntou a jovem Fernanda, que é fã da cantora e acompanha seus shows. A cantora respondeu, “O Deus que eu vejo é o universo”, ela ainda disse que acha uma “coisa meio arrogante da raça humana de se acharem os filhos de Deus”.

Ainda argumentando sobre o assunto, Rita disse que acha muito pobre a ideia de falar com Deus e Ele responder, “é muito difícil aceitar isso, eu não aceito não, nessa eu sou ateia”, disse a cantora. Ela explicou que acredita em Deus como um mistério, “é um mistério que a gente não entende, Deus é um mistério”.

Em entrevista ao jornal O Globo em 2020, Rita Lee atacou a mistura de religião e política, afirmando que isso tem resultado em “cagações de regras” e que estamos vivendo um “filme de horror”, com os humanos se comportando como um “vírus destruidor da nossa Nave Mãe Terra”.

“Desse deus, com minúscula mesmo, esse que os terráqueos arrogantemente se acham a imagem e semelhança de, sou atéia — diz. — Religião e política misturados dá nisso: cagações de regras e dane-se o povo. Estamos vivendo um filme de horror, a verdadeira Primeira Grande Guerra Mundial, cujo inimigo comum é um vírus invisível. Por outro lado, os humanos vêm se comportando visivelmente como um vírus destruidor da nossa Nave Mãe Terra. O próximo filme é um misto de ‘Apocalipse Now’ e ‘Mad Max’”.

Apesar disso, no entanto, no seu primeiro livro autobiográfico, intitulado “Rita Lee: uma autobiografia” e publicado pela Globo Livros em 2016, a cantora descreveu como imaginava a reação das pessoas em relação à sua morte. Em um trecho intitulado “Profecia”, ela concluiu dizendo que, enquanto isso, estaria presente em espírito no céu, tocando sua autoharp e cantando para Deus: “Obrigada, Senhor, finalmente sedada”.

“Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you Lord, finally sedated’. Epitáfio: ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa.”

SOBRE A RITA LEE

Rita Lee nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947, e iniciou sua carreira musical aos 16 anos, integrando o trio vocal feminino Teenage Singers. Em 1964, entrou no grupo de rock Six Sided Rockers, que posteriormente deu origem aos Mutantes, uma das bandas brasileiras de rock mais cultuadas no mundo.

Os Mutantes foram fundamentais para o movimento tropicalista, que uniu a psicodelia aos ritmos locais, e se tornaram o grupo brasileiro com maior reconhecimento entre músicos de rock do mundo. Além disso, Rita Lee foi uma referência de criatividade e independência feminina durante os quase 60 anos de carreira.

A discografia de Rita Lee conta com 40 álbuns, sendo seis dos Mutantes e 34 na carreira solo. Entre seus álbuns de destaque estão “Saúde” (1981) e “Rita e Roberto” (1985), com o qual os dois subiram ao palco do primeiro Rock in Rio.

A morte da cantora gerou grande comoção nas redes sociais, com fãs e colegas de profissão lamentando a perda de uma das maiores vozes da música brasileira. O velório da cantora será aberto ao público no Planetário do Parque Ibirapuera, em São Paulo, na quarta-feira (10/05), das 10h às 17h. O corpo da artista será cremado em uma cerimônia restrita à família.