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Jovem preso por estupro que não cometeu se apegou à Bíblia na cadeia: “Deus me guardou”

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Luís Otávio da Silva – Foto: Profissão Repórter

Luís Otávio da Silva, de 31 anos, foi preso injustamente. Morador de Olímpia, interior de São Paulo, Luís era estudante de psicologia em 2014, quando foi acusado e preso pela polícia.

“No dia 11 de setembro de 2014 começou um pesadelo na minha vida. Fui confundido com uma outra pessoa e fui acusado. Estava em casa, umas 11 horas da manhã, e apareceram dois policiais militares”, disse ele ao Programa Profissão Repórter, da TV Globo.

“Eles perguntaram para mim se eu tinha aparelho dentário e eu respondi que não. Perguntei o que eles queriam ali em casa e eles me disseram que uma moça tinha sido abusada aqui perto e eu era suspeito”, contou.

Ele revelou que continuou sua vida normalmente, até que um dia ele foi chamado para um reconhecimento. Luís passou pelo reconhecimento e a mulher tinha dito que não era ele.

No primeiro reconhecimento, a vítima viu Luís e afirmou que não tinha sido ele. Depois os policiais procuraram novamente a vítima e levaram imagens de Luís Otávio na faculdade.

Ela notou uma similaridade nas roupas dele e do estuprador, e reconheceu que tinha sido Luís. Ele, então, foi preso.

ELE E A BÍBLIA NA CADEIA

Luís conta que, durante o período em que ficou preso, fez algumas anotações na Bíblia que carregava consigo. Ele lembra dos momentos de tensão que viveu.

“A minha Bíblia ficou lá dentro comigo e anotei as coisas que aconteceram lá. No dia 4 de novembro eu anotei: ‘Deus é fiel e me guardou’. Foi numa briga que teve lá. Foi facada, paulada. Eu não sei de onde eles conseguiram tirar a faca. Mas tinha pessoas ensanguentadas no chão… Eu chorava dia e noite”, Relembra.

Na época da prisão, o nome de Luís foi divulgado em várias reportagens da região, como se fosse ele o autor do crime. Ele desenvolveu problemas psicológicos e não consegue trabalhar.

“Eu tenho a sensação de as pessoas sempre terem desconfiança de mim. Ficou algo que não teve punição para ninguém. Eu fico envergonhado até hoje”, contou ele. “Essa questão de não conseguir ficar em trabalho é muito dolorido. Muitas coisas na cabeça e aquele sentimento de tristeza. Minha vida parou ali. Desenvolvi várias coisas depois de ficar preso, mania de perseguição. Eu faço tratamento psiquiátrico e tomo vários remédios. Se eu não tomar é pesadelo a noite inteira”, completou.

O principal indício contra ele era o de usar roupas parecidas com as do criminoso. Ao longo do processo, a Justiça negou diversos recursos da defesa, e Luís só foi libertado depois que um exame de DNA provou que ele era inocente.

“A prova cabal foi o exame de DNA, que foi feito do esperma que estava nas vestes da vítima. Daí, constatou-se que realmente que ele não concorria para o crime. Uma prova cabal como essa deveria ter sido feita no outro dia. E não deixar uma pessoa injustamente presa por 11 meses por falta de recurso do Estado de fazer esse tipo de exame”, diz Márcio Eugênio Diniz, advogado de Luís Otávio.

INDENIZAÇÃO

Luís pediu indenização de R$ 1 milhão ao estado de São Paulo por danos morais pelos 11 meses preso em uma cela com quarenta acusados de crimes sexuais e homicídios. Ele perdeu na primeira instância, mas recorreu e conseguiu ganhar a causa. No entanto, os desembargadores reduziram o valor da ação, alegando que o valor de R$ 80 mil seria suficiente para reparar os danos da prisão injusta. O estado de São Paulo ainda pode recorrer.

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