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Menina cristã de 13 anos é obrigada a se casar e se converter ao islã no Paquistão

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Nayab Gill foi sequestrada e casada à força no Paquistão em maio de 2021. (Foto: Morning Star News).

Uma menina de 13 anos foi obrigada a se casar com um muçulmano de 30 anos no Paquistão. Além disso, ela teve que se converter ao islã. Ela foi raptada pelo homem, que a obrigou a declarar à Justiça do país que tinha 19 anos.

O pai da menina que é cristão, chamado Shahid Gill, falou sobre o caso na semana passada. Aos prantos, Gill relembrou a data em que se completou um mês do dia em que o Tribunal do Paquistão entregou sua filha à custodia de um muçulmano de 30 anos.

A menina, que se chama Nayab, foi raptada por sete pessoas em maio deste ano. Depois, obrigaram a menina a se casar com Saddam Hayat e a se converter ao islã, religião mais presente no país.

RAPTADA MISTERIOSAMENTE

Shahid Gill contou que trabalha como alfaiate na cidade de Gujranwala e sua filha trabalhava como ajudante no salão de beleza de Saddam Hayat. Segundo Gill, o homem se ofereceu para treinar sua filha, já que ela estava sem aulas, devido à pandemia da Covid-19. Ele prometeu pagar 10.000 rúpias (64 dólares) por mês para Nayab, mas parou de pagar poucos meses depois.

“Hayat me disse que, em vez de perder tempo, Nayab deveria aprender habilidades de salão para ajudá-la a sustentar a família financeiramente. Ele até se ofereceu para buscá-la em casa e deixá-la depois do trabalho, garantindo-nos que ela era exatamente como a filha dele”, disse o pai da garota em entrevista à Morning Star News.

No dia 20 de maio, a menina não chegou em casa e desapareceu. Logo, a família foi à casa do homem para saber de informações do paradeiro da menina. No entanto, não a encontraram, e pouco tempo depois, o muçulmano contatou os pais e afirmou que não sabia onde estava Nayab. Segundo o pai da menina, o homem se ofereceu para ajudá-los a encontrá-la e também acompanhou a família a vários lugares para procurá-la.

Além disso, o muçulmano acompanhou a mãe, Samreen, até a delegacia para registrar o desaparecimento de Nayab. Ele orientou ela a não revelar que Nayab trabalhava para ele no salão de beleza.

TRIBUNAL LEGALIZA CASAMENTO

Dias depois, a polícia informou aos pais que Nayab estava num abrigo para mulheres desde o dia 21 de maio. Nayab alegou, por meio de requerimento apresentado a um tribunal de magistrados, que tinha se convertido voluntariamente ao Islã há um mês. Além disso, disse que sua vida estava em risco por causa de sua família cristã.

Também, a menina afirmou que tinha 19 anos de idade. O requerimento foi assinado por ele no dia 21 de maio. Mas, sua certidão de casamento islâmica foi registrada no dia 20 de maio. Segundo a família da adolescente, o juiz ignorou essas informações conflitantes e outras evidências.

A família foi ao abrigo ver Nayab no dia 26 de maio e ela disse à avó que queria voltar para casa e que estava disposta a declarar seu desejo num requerimento ao tribunal. “Estávamos esperando do lado de fora do local, quando uma guarda nos disse que o pedido de Nayab teria que ser verificado pelo superintendente do abrigo, então teríamos que esperar algum tempo”, disse o pai Gill.

Nesse meio tempo, um guarda do abrigo relatou à família que, na realidade, Nayab já havia escrito o requerimento solicitando que queria voltar para casa, mas que o superintendente tinha lhe forçado a falar com Hayat e outra pessoa ao telefone antes que ela tivesse a chance de assinar o documento.

“O superintendente então saiu furtivamente pelo portão dos fundos e foi até a polícia e disse a eles que havíamos sitiado a casa-abrigo e que eles deveriam nos remover de lá. Enquanto isso, Hayat também chegou lá e nos ameaçou de abrir fogo contra nós se não saíssemos do local em cinco minutos. Nós nos recusamos a ceder um centímetro, mas então a polícia chegou e nos disse para irmos ao tribunal no dia seguinte para a audiência”, denunciou Gill.

No dia seguinte, em 27 de maio, no entanto, Nayab reiterou que era uma mulher adulta de 19 anos e havia se tornado muçulmana por vontade própria.

“Nosso advogado não compareceu à audiência, então minha esposa e eu abordamos diretamente o juiz e apresentamos todos os documentos oficiais para provar que minha filha nasceu em 16 de outubro de 2007, o que a torna com 13 anos e sete meses. Dissemos ao juiz que ela estava mentindo sobre sua idade sob coação. Ela tinha hematomas no rosto e os olhos também estavam vermelhos, o que deveria ter chamado a atenção do juiz, mas ele ignorou”, afirmou Gill.

O juiz rejeitou os documentos oficiais que comprovam a idade real de Nayab, além da certidão de casamento de seus pais, que mostravam que eles tinham 18 anos de casamento, logo, não seria possível que sua filha tivesse 19 anos, conforme sua suporta certidão de casamento islâmico dizia.

O pai da menina disse também que o juiz não solicitou um exame de ossificação para verificar a idade verdadeira de de Nayab.

“O juiz aceitou o pedido de Nayab para deixar o abrigo e ficar com a família de Hayat. E não havia nada que pudéssemos fazer para impedi-la”, disse o pai.

“Minha mãe desmaiou na sala do tribunal assim que o juiz deu sua ordem e, enquanto estávamos cuidando dela, a polícia discretamente levou Nayab para longe”, contou Gill.

O Paquistão tem se tornado palco de sequestros e casamentos forçados de meninas cristãs. De acordo com a organização Portas Abertas, o Paquistão é o país com mais casos de casamentos forçados, com cerca de mil cristãos vítimas nos últimos dois anos.

Protesto contra o casamento infantil no Paquistão. (Foto: Asian News).

PEDIDO DE RECUPERAÇÃO

O bispo moderador da Igreja Protestante Unida do Paquistão, Azad Marshall, afirmou que entrou com pedido para a recuperação da menina Nayab no Tribunal Superior de Lahore e decidiu apresentar queixas contra policiais e oficiais de justiça por ignorar a legislação em relação a rapto e estupro no caso de Nayab.

“Infelizmente, nossa polícia e o judiciário inferior estão facilitando casamentos infantis e conversões de meninas de minorias, devido ao qual os perpetradores desse grave crime conseguem se safar”, denunciou o bispo Marshall ao Morning Star News.

Marshall também informou que pediu ao renomado advogado de direitos humanos Saif Ul Malook para entrar com um pedido ao Tribunal Superior para a recuperação de Nayab e abertura de uma nova investigação do caso.

“Estou bastante esperançoso de que o caso de Nayab chamará a atenção do judiciário superior e do governo para esta questão crucial mais uma vez, e um mecanismo seria desenvolvido para impedir tais atrocidades contra as meninas da minoria sob o manto da religião”, disse o bispo Marshall.

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