Assédio, perseguição e vasectomia: Ex-pastores vão à Justiça contra Igreja Universal

Diversos ex-obreiros e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) decidiram levar suas queixas à Justiça, alegando terem sido vítimas de assédio, falsas promessas e restrições à parentalidade por parte da instituição religiosa.

Em um dos casos expostos, um ex-pastor acusa a igreja de forçá-lo a realizar uma vasectomia em uma clínica clandestina. O processo, registrado no Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10), destaca que o homem e sua esposa foram coagidos a se filiar a um partido político como condição para manterem seus cargos pastorais.

O ex-pastor busca o ressarcimento de quase R$ 500 mil em dívidas trabalhistas e expõe a imposição de metas para a arrecadação de dízimos, com punições em caso de não cumprimento.

Outro pastor, em um processo semelhante no mesmo tribunal, relata ter recebido a condição de realizar uma vasectomia para permanecer no cargo pastoral, sob a justificativa de que ter filhos interferiria em seu comprometimento total com as atividades da igreja. Este ex-integrante solicita mais de R$ 3 milhões por direitos trabalhistas e a condenação da IURD a arcar com os custos de uma cirurgia de reversão da vasectomia.

Em um terceiro caso em andamento no TRT-10, a esposa de um ex-pastor pede uma indenização de R$ 1,5 milhão, alegando ter sofrido perseguições e assédio moral. Ela acusa a Universal de se beneficiar indevidamente de sua mão de obra, relatando que esposas de pastores são compelidas a realizar diversas tarefas em apoio às atividades de seus maridos na igreja.

Além disso, a mulher denuncia a existência de um grupo chamado Godllywood, destinado a mulheres, que estabelece regras comportamentais e uma hierarquia entre as esposas dos pastores. A adesão a esse grupo, segundo ela, é condicionada a uma prova chamada “Rush”, na qual as candidatas realizam tarefas e arrecadam valores para demonstrar seu comprometimento.

Outro ex-pastor, em um processo no Tribunal de Justiça de São Paulo, alega ter sido prometida a liderança de uma igreja nos Estados Unidos, desde que aceitasse fazer uma vasectomia. Ele destaca que a Universal prioriza pastores sem filhos, alegando que estes podem se dedicar integralmente aos cultos e arrecadação.

Vale destacar que a Igreja Universal do Reino de Deus já foi condenada anteriormente por casos similares. Em 2022, a 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) determinou uma indenização de R$ 100 mil a um pastor do Distrito Federal obrigado a realizar vasectomia, considerando o caso como assédio moral.

A IURD, ao ser procurada para comentar as acusações, negou as alegações de impor vasectomia a seus pastores. A instituição afirmou que promove o planejamento familiar, destacando que a decisão pela vasectomia é uma escolha pessoal entre médico e paciente/casal, e não deve sofrer interferência externa, mesmo que motivada por questões religiosas. Leia abaixo:

“A Igreja Universal do Reino de Deus esclarece — o que já é público — que a acusação de imposição de vasectomia é facilmente desmentida pelo fato de que muitos bispos e pastores da Universal, em todos os níveis de hierarquia da Igreja, têm filhos. São mais de 3 mil filhos naturais de membros do corpo eclesiástico da Igreja. O que a Universal estimula é o planejamento familiar, debatido de forma responsável por cada casal — como, aliás, está previsto em nossa Constituição Federal.

Quando uma pessoa opta pela vasectomia, como método contraceptivo, é algo completamente particular, entre médico e paciente/casal, não podendo ter qualquer ingerência de terceiros neste ato, ainda que fosse por motivo de credo.

Posto isto, vale lembrar que, assim como acontece com qualquer instituição neste país, seja religiosa ou não, a Universal também não é responsável por quaisquer decisões particulares de nenhum dos seus oficiais — que gozam de plena capacidade de decisão, sendo totalmente aptos para sua vida civil com absoluta autonomia.”

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